Ator de “Colegas” diz que
deficientes não devem se esconder
Um auditório lotado recebeu com palmas na tarde desta quarta-feira, dia 21 de maio, o casal de atores portadores da Síndrome de Down Ariel Goldenberg e Rita Pokk, no auditório Meira Júnior do Theatro Pedro II, para um Salão de Ideias da 14ª Feira Nacional do Livro. Intermediados pela produtora Aleksandra Zakartchouk, eles falaram sobre as experiências pessoais e profissionais, para um público formado por pessoais de todas as idades e com diversas deficiências. Ambos se mostraram extasiados com a lotação do teatro. Sobre toda a produção e gravação do longa metragem “Colegas”, que ganhou vários prêmios no Brasil e exterior, Ariel se autodenominou corajoso e disse que o incentivo para a gravação do filme existiu desde o começo. Já Rita contou que foi a realização de um grande sonho e que tudo foi maravilhoso. Alek, como é conhecida entre eles a produtora que mediou o bate papo, revelou que no inicio, quando ela e os outros produtores procuravam incentivos e patrocínios para o filme, tudo foi muito difícil. Alek diz que o ser humano pode evoluir muito com a experiência de ajudar ao próximo. Ariel concordou. “Não devemos nos esconder, temos que encarar a sociedade de frente”, falou o ator, se referindo a todos os deficientes.
Para o cadeirante Jairo Marques, é preciso amar para entender a diversidade
“Antes de meu irmão nascer eu não enxergava as pessoas com
deficiência. Hoje a maior deficiência do mundo são as pessoas.” Com essa frase
Leonardo Gontijo explicou como é sua relação com seu irmão Dudu, portador da
síndrome de Down. Além dos dois, estavam presentes na Mesa de Debate que
discutiu a condição do deficiente no Brasil o jornalista da Folha e cadeirante
Jairo Marques, o deficiente visual Fernando Botelho e a professora Lucena
Dall’Alba. Eles falaram do preconceito que os deficientes sofrem e de como deve
ser feita a inclusão deles na sociedade.
Antes do
início do debate, Dudu do Cavaco tocou o Hino Nacional no cavaquinho. Em
seguida, seu irmão Leonardo falou da importância de estimular os deficientes a
descobrirem algo que gostem e dominem. Ele ainda afirmou que é preciso acabar
com a ideia de que deficiente é coitadinho.
Ele coordena junto com o irmão, em Belo Horizonte, Minas Gerais, o
projeto Mano Down, que aconselha familiares de pessoas com Down a como lidar
com a limitação dos portadores da síndrome.
Já a
professora Lucena, que tem uma irmã com deficiência mental, disse que debater
este tema em uma Feira do Livro, além de levantar a questão sobre o preconceito,
serve para discutir o tipo de literatura que é feita para os deficientes.
Segundo ela, não são todos os livros que retratam corretamente a vida de um
deficiente. “Nós temos livros que retratam personagens com deficiências físicas
e motoras. Mas os deficientes mentais, na grande maioria das vezes, são
esquecidos”. A professora disse ainda que a maioria das pessoas tem medo ou
receio de chamar atenção de pessoa com necessidade por pena. Sentimento que não pode existir. “Não é
porque ele tem uma deficiência que eu não posso chamá-lo de chato. Posso e
devo”.
Os
palestrantes também debateram o atraso que o Brasil vive em relação aos países
de Primeiro Mundo. Jairo Marques, que em 2012 cobriu os jogos Paraolímpicos em
Londres, disse que os ingleses deram uma lição de cidadania. Antes de receberem
os participantes para a competição, a organização promoveu ações na
cidade, levando portadores de deficiência a escolas e locais de trabalho para mostrar como essas pessoas tinham uma vida normal. A
iniciativa deu tão certo que em um jogo de bocha entre público vibrava e se
emocionava a cada
jogada. Ele ainda aproveitou para relatar que uma funcionária do hotel em que
ele está hospedado em Ribeirão Preto havia ficado indignada por ele ter vindo
sozinho para a cidade. “Mas você não pode tomar banho sozinho”, teria dito a
funcionária.
Foi este
atraso e falta de tecnologia que levaram o deficiente visual Botelho a ir estudar
nos Estados Unidos quando jovem. Segundo ele, isto foi um divisor na sua vida e
o fez passar de um aluno médio na escola para um dos primeiros na universidade.
Porém, ele percebeu que apenas uma minoria financeiramente favorecida tinha
essa possibilidade. Foi devido a essa indignação que criou o projeto F123, uma
iniciativa barata que aumenta o acesso à educação e ao emprego para os
deficientes visuais através da tecnologia e utilização de software livre. “De
1997 a 2006, o preço do computador básico caiu 80%. Já o computador para cegos
teve um aumento de 20% no país. Em países desenvolvidos ele é de graça”.
Marques elogiou a 14º Feira Nacional do Livro
de Ribeirão Preto pela coragem em discutir a condição do deficiente em um
evento literário e chamou os organizadores de atrevidos por convidá-lo a
participara da Mesa de Debates. Ele disse que sua missão no jornalismo é tirar
as pessoas deficientes da invisibilidade. “Eu vivi quase dois anos da minha
vida no hospital. Hoje, eu escrevo para provocar aquela pessoa que diz que tem
pena do deficiente, mas para em vaga destinada a pessoas especiais. Minha
mensagem é sempre provocadora, porque o deficiente já sofreu demais para ser
tratado como coitadinho”.
O professor
Márcio Bresciani, que estava na plateia, disse que leciona em uma escola que tem
dois alunos com deficiência física e muitas vezes os outros estudantes não
sabem lidar com o diferente. “Esta discussão me mostrou um caminho para mediar
isto”.
No
encerramento do debate, Dudu tocou a música “Como é Grande o meu Amor por você”,
de Roberto Carlos, em uma bela e emocionante apresentação. Seu irmão ofereceu a
canção ao médico que disse que o garoto não iria sobreviver. A plateia cantou
em coro e Dudu ainda foi bastante tietado pelo público.
“Está
provado que o portador de Síndrome de Down teve avanços significativos com o
convívio escolar”, disse Márcia Duarte, graduada em Educação Especial e doutora
em Educação Escolar com ênfase em educação de portadores de Síndrome de Down.
Márcia protagonizou, na noite desta quarta-feira, dia 21, a Conferência sobre a
condição dos deficientes na 14ª Feira Nacional do Livro em Ribeirão Preto.
Márcia
deu início ao bate-papo com a exibição do vídeo: “Querida Futura Mamãe”,
produzido pela agência Saatchi&saatchi para uma mãe que havia acabado de
descobrir que estava grávida de um filho portador da Síndrome de Down. No
vídeo, 15 jovens e crianças de alguns países portadores da síndrome falam com
essa futura mãe sobre tudo que seu filho pode fazer, desmistificando o mito que
a pessoa com Síndrome de Down não consegue aprender e se virar sozinho.
A
professora falou de sua experiência anterior em uma escola pública. “Eu conheço
a realidade das escolas. Muitas vezes o professor também não tem oportunidade e
nem tempo de se dedicar e se preparar para o aluno com necessidades especiais.”
Márcia falou também da extinção da chamada “Classe Especial” e das leis que
garantem a matrícula do portador nas classes regulares. A educadora apontou
resultados positivos de pesquisas realizadas com alunos inseridos no dia-a-dia
escolar.
A
professora também se referiu ao Salão de Ideias que ocorreu pela manhã na Feira
com os protagonistas do filme brasileiro “Colegas”. “A Feira está dando
oportunidade e voz para as minorias. A participação da Rita e do Ariel
(protagonistas do filme) desmistificou muito sobre a capacidade dessas
pessoas”, completou a professora, que disse estar satisfeita com tudo que pode
acompanhar da programação da 14ª Feira Nacional do Livro de Ribeirão Preto.
“Eu
acompanhei hoje a Mesa de Debates e a Conferência e estou adorando. Aprendi
muito e já descobri até novas abordagens para trabalhar com meus alunos”, disse
a arte educadora Glaucia Tamiris, que trabalha com dança no CAEERP (Centro de
Atividade Educacional Especializada de Ribeirão Preto). Glaucia também acompanhou
o espetáculo da abertura da 14ª Feira: “Belle”, o Salão de Ideias com Debora
Colker e a Conferência com Mario Sérgio Cortella. “Gostei muito da organização
e dessa divisão de temas por dias. O sistema de senha também achei que
funcionou muito bem”.
Fundação Feira do Livro
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